Início » Fuga silenciosa: condenada a 10 anos, Carla Zambelli deixa o país sem aviso prévio
Policia Ultimas Notícias

Fuga silenciosa: condenada a 10 anos, Carla Zambelli deixa o país sem aviso prévio

Lula Marques/EBC/Agência Brasil Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/radar/antes-da-fuga-carla-zambelli-pediu-pix-a-apoiadores/

Brasília – Em um movimento que pegou até aliados de surpresa, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos de prisão por crimes relacionados aos atos antidemocráticos de 2022, deixou o Brasil na madrugada desta terça-feira (3). O destino final ainda não foi confirmado oficialmente, mas há indícios de que ela embarcou para um país europeu, onde tentaria obter asilo político.

A decisão de deixar o país ocorre menos de 48 horas após a publicação oficial da sentença, proferida pelo Supremo Tribunal Federal, que julgou Zambelli culpada por incitação ao crime, porte ilegal de arma de fogo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A pena de 10 anos em regime fechado é uma das mais severas aplicadas a parlamentares envolvidos nos atos golpistas que marcaram o início de 2023.

A saída repentina, sem notificação à Câmara dos Deputados ou ao próprio STF, reacende o debate sobre a eficácia dos mecanismos de contenção e monitoramento de políticos em exercício condenados pela Justiça. Segundo apuração preliminar, a deputada não constava em nenhuma lista de impedimento para viagens internacionais, e seu passaporte ainda estava ativo até a madrugada do embarque.

A movimentação de Zambelli no aeroporto internacional de São Paulo foi discreta. Câmeras de segurança registraram a parlamentar em trajes informais, acompanhada por dois assessores próximos, que não embarcaram. Fontes internas afirmam que ela embarcou sozinha, usando passagens emitidas no nome civil, sem qualquer alteração ou subterfúgio.

A defesa da deputada ainda não se pronunciou oficialmente. Nos bastidores, circula a versão de que Zambelli alegará perseguição política para justificar o pedido de asilo, numa tentativa de se antecipar ao cumprimento da pena. O movimento é visto como arriscado, já que pode configurar fuga do país e gerar novos pedidos de extradição, dependendo do posicionamento da Justiça do país de destino.

No Congresso, o clima é de tensão. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi informado da partida por volta das 8h e convocou uma reunião de emergência com a Mesa Diretora. Já há pressão para a abertura de processo de cassação do mandato, que pode ocorrer mesmo à revelia da parlamentar.

O ministro responsável pelo julgamento, em despacho de caráter reservado, determinou à Polícia Federal a investigação das circunstâncias da saída do país. Também foi requisitada à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) uma apuração sobre eventuais contatos diplomáticos estabelecidos por Zambelli nas semanas anteriores à condenação.

Nas redes sociais, adversários políticos acusaram a deputada de covardia e fuga premeditada. A hashtag #ZambelliForagida já figurava entre os assuntos mais comentados da manhã. Internautas lembraram que, em várias ocasiões, Zambelli declarou que jamais deixaria o país e que confiava plenamente na Justiça brasileira.

A situação abre um novo capítulo na crise institucional que se arrasta desde o fim do governo Bolsonaro. Com a saída de Zambelli e a possibilidade de novos desdobramentos jurídicos e diplomáticos, o país observa atentamente os próximos passos do que pode se transformar em mais um impasse entre os Poderes.

Enquanto isso, permanece a pergunta: Carla Zambelli voltará para cumprir sua pena ou assumirá de vez o papel de exilada política em solo estrangeiro?